miércoles, 7 de mayo de 2014

Despertar a memória de Deus

Jacopo da Ponte, Parábola do rico e do pobre Lázaro (1559),

Museu de História da Arte, Viena



 A palavra catequese vem do grego katechein, ressoar, fazer eco. Em sua homilia durante a Jornada dos Catequistas (29/09/2013), o Papa Francisco definiu belamente ao catequista, ao educador cristão, como aquele que guarda, alimenta e desperta a memória de Deus em si mesmo e nos demais.



     Tomando pé dos textos litúrgicos do dia, começou falando do risco em que se encontram aqueles que "bebem, cantam, se divertem e não se preocupam pelos problemas dos demais" (cf. Livro do Profeta Amós 6, 1.4). Com outras palavras, é "o risco de apoltronar-se, da comodidade, da mundanidade na vida e no coração, de concentrarmo-nos em nosso bem-estar".
     Um caso assim é o do rico do Evangelho, que se vestia luxuosamente e banqueteava com abundância, enquanto o pobre que estava à sua porta não era assunto seu (cf. Lc 16, 19 ss). "Se as coisas, o dinheiro, o mundano se convertem no centro da vida, nos agarram, se apoderam de nós, perdemos nossa própria identidade como homens". O relato do Evangelho não dá, à quem assim se comporta, nem sequer um nome.


Isto acontece porque perdemos a memória de Deus

     Em um segundo passo, o Papa se pergunta como é possível isto, que nos encerremos nas coisas até o ponto de que nos retirem nosso rosto humano. E responde desta maneira: "Isto acontece quando perdemos a memória de Deus (...) Se falta a memória de Deus, tudo fica comprimido do eu, em meu bem-estar. A vida, o mundo, os demais, perdem consistência, já não contam nada, tudo se reduz à uma só dimensão: o ter. Se perdemos a memória de Deus, também nós perdemos a consistência, também nós nos esvaziamos, perdemos nosso rosto como o rico do Evangelho".

     Em outros termos, "quem corre atrás do vazio, ele mesmo se converte em nada, diz outro grande profeta, Jeremias (cf. Jr 2, 5). Somos feitos à imagem e semelhança de Deus, não à imagem e semelhança das coisas, não dos ídolos". E efetivamente. Não é que em si mesmas as coisas da vida não sejam nada; mas que quando se coloca nelas a confiança que deveria depositar-se só em Deus, perdem sua significação, sua densidade e seu horizonte humano e até acabam nos esvaziando de humanidade à nós mesmos.


A fascinante tarefa de educar na fé

     À partir daí se dirige aos catequistas, de quem dá uma bela definição: "Quem é o catequista? É o que guarda e alimenta a memória de Deus; a guarda em si mesmo e sabe despertá-la nos demais". De fato - dirá mais adiante o Papa - o Catecismo é isso: memória de Deus e de Seu atuar próximo à nós em Cristo, e agora presente em Sua Palavra, nos Sacramentos em Sua Igreja, em Seu amor. A Virgem Maria quando foi visitar sua prima Isabel fez memória do obrar de Deus, da fidelidade de Deus na história de Seu povo e em sua mesma vida pessoal, como proclamou no Magnificat (cf. Lc 1, 46 ss).

     Isto tem à ver com a fé, posto que essa fidelidade de Deus aumenta em nós a confiança Nele: "A fé contêm precisamente a memória da história de Deus conosco, a memória do encontro com Deus, que é o primeiro em mover-se, que cria e salva, que nos transforma; a fé é memória de Sua Palavra que inflama o coração, de Suas obras de salvação com as que nos dá a vida, nos purifica, nos cura, nos alimenta".
o catequista coloca essa memória ao serviço do anúncio da fé: "não para exibir-se, não para falar de si mesmo, mas para falar de Deus, de Seu amor e Sua fidelidade", para transmitir tudo o que vem de Deus, sem tirar nem pôr, e sobretudo anunciar Jesus Cristo (cf. 2 Tm 2, 8-9).


Esforço e compromisso pessoal

     Agora, continua o Papa, este deixar-se guiar pela memória de Deus para despertá-la no coração dos demais, requer esforço e compromete a vida.
Consciente disto pergunta aos catequistas, o que pode valer em um sentido mais amplo para todo educador na fé: "Somos memória de Deus? Somos verdadeiramente como sentinelas que despertam nos demais a memória de Deus, que inflama o coração?"

     Isto poderá fazer o catequista, "se tem uma relação constante e vital com Ele e com o próximo; se é homem de fé, que se fia verdadeiramente de Deus e coloca Nele sua segurança; se é homem de caridade, de amor, que vê à todos como irmãos; se é homem de 'hypomoné', de paciência e perseverança, que sabe fazer frente às dificuldades, às provas e os fracassos, com serenidade e esperança no Senhor; se é homem amável, capaz de compreensão e misericórdia".


     Toda uma lição, nada abstrata, sobre o que é um catequista como educador na fé. E que se resume nestas duas condições: guardar e alimentar a memória de Deus na própria vida e sabe-la despertar no coração dos demais, do modo que hoje é necessário: com a compreensão e a misericórdia.



(Trad. por Sara Rozante)

1 comentario:

  1. Muy bueno!
    Todos debemos ser, de una forma u otra, catequistas. ¡Qué gran servicio a la Iglesia!
    Intentemos ser buenos y santos catequistas.
    Gracias

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