martes, 21 de mayo de 2013

Domínio de si mesmo





O Papa Francisco falou de “custodiar” e “servir”. E aos jovens, o Domingo de Ramos, de alegria e cruz.

Tudo isso tem a ver com o domínio de si mesmo. Um assunto em que cabe destacar, estes valores: O respeito e a fidelidade, a paciência e o ascetismo, o animo e a coragem, a concentração e silêncio. A respeito disso trata Romano Guardini em sua obra: Uma ética para nosso tempo. (Madri 2007)



Respeito e fidelidade

Disse Guardini que o respeito perante a grandeza e o elevado (a dignidade da pessoa, uma obra de arte, a beleza do mundo, o sagrado) vai associado ao cuidado do que é pequeno e débil. No inicio de seu ministério petrino (13-III-2013) o Papa Francisco se referiu a esse custodiar e servir em que consiste o humano e o cristão.

Respeitar as pessoas é levá-las a sério, trata-las sem violência, astucia nem indiferença (coisa que pode levar a romper um matrimônio ou amizade). Hoje, falta respeito às pessoas, as invadimos e as usamos por curiosidade, doença ou dinheiro. Diante daquilo que percebemos de grandeza no outro, temos tendência à inveja e ao ressentimento. Porém, o que convém, e nos faz sábios diz Goethe: É o “respeito amoroso” reconhecer isso e querer que seja assim.

O respeito é a atitude por excelência diante do sagrado, como ensina a Bíblia (cf. Êx, 3,5) O crente tem a consciência de que Deus existe e que está presente de modo particular em certos tempos e lugares; e Ele é o primeiro que respeita nossa liberdade porque nos ama.

Tanto a fidelidade como a confiança tem sua raiz na fé. Há quem tenha uma disposição natural para manter os vínculos e as decisões (e por isso devem lutar para que isso não acabe em rigidez). Porém a maioria tem que esforçar-se, porque a fidelidade (por exemplo, no matrimonio e na amizade) deve passar por três provas: a prova da permanência no tempo, a prova do crescimento e a criatividade da vida; e a firmeza que se apoia na confiança.

Isso é particularmente claro quando se trata da fidelidade de Deus em relação a nossa falta de clareza ou falta de sentimentos. Deus não fez o mundo para brincar e depois se cansou dele (como o mito indiano do deus Shiva), mas é sempre fiel ao seu amor pelo homem, como manifesta Jesus Cristo.

Com serenidade Jesus vai ao encontro de sua paixão e aceita a alegria das crianças e da gente sincera que lhe aclama o primeiro “Domingo de Ramos”. Aos Cristãos nos aconselha o Papa Francisco: “Nós acompanhamos, seguimos a Jesus, porém acima de tudo sabemos que Ele nos acompanha e nos carrega sobre seus ombros: Nisso reside a nossa alegria, a esperança que temos de levar a este nosso mundo”. (Homília no Domingo de Ramos, 24-III-2013).


Paciência e asceticismo

A paciência se associa a serenidade para aceitar o que não se pode mudar e o compromisso para mudar o que se pode, começando por si mesmo. Distinguir os dois é importante, e requer reflexão e exame para reconhecer, por exemplo, que me falta ordem e controle. Mas até que passe do pensamento e da imaginação para a ação, nada muda.

Sem o esforço para recomeçar muitas vezes (cf Ps 76, 11), a paciência é mera passividade, aburguesamento, habituação. Isto fica claro a partir da perspectiva cristã, pois o mais paciente é Deus que é onipotente, e por vez deixa amadurecer o mundo que ama. Ele é paciente e sabe manter-se em “tensão serena” entre o que é e o que aspira. Se um professor não tem paciência gera insegurança e falta de sinceridade. Todos nós necessitamos de um “tempo pedagógico” para aprender e ensinar sobre todas as coisas importantes.

Por isso a paciência deve associar-se ao asceticismo, que segundo Guardini, significa “que o homem se decida a existir como homem” (p.217). E que para isso seja capaz de ordenar suas tendências na hierarquia de valores que são na realidade: a saúde e o trabalho, a realização pessoal, o crescimento espiritual. Isso implica sacrifício, esforço e disciplina por mais que essa última palavra produza alergia ao Professor Keating no filme: “O clube dos poetas mortos” (P. Weir, 1989).

Hoje muitos não querem falar de “sacrifícios” embora façam frequentemente (por exigências do trabalho ou de saúde ou da própria imagem). Em contrapartida, quem descobriu que isso vale a pena, sabe encontrar ocasiões a cada dia para fortalecer-se nesse asceticismo, sem perder a saúde: acordar em ponto, terminar o trabalho, aceitar uma limitação para o bem maior, ser gentil com alguém antipático, etc. Tampouco o cristianismo aconselha grandes jejuns e penitências. Só o necessário para acompanhar a Jesus Cristo caminho da Cruz.

“Jesus – observa o Papa Francisco –toma sobre si o mal, a sujeira, o pecado do mundo, também o nosso, de todos nós e o lava, o lava com seu sangue, com a misericórdia com o amor de Deus”. (...) Este é o bem que Jesus faz a todos nós no trono da Cruz. A cruz de Cristo, abraçada com amor, nunca conduz a tristeza, mas a alegria, a alegria de ser salvos e de fazer um pouquinho daquilo que foi feito naquele dia de sua morte. (Homilia 24-III-2013).


Ânimo, coragem

Também ao falar de ânimo e coragem distingui Guardini entre os que parecem ter nascido já com essas crueldades (e então terão que vigiar para que não se tornem frívolos, brutais ou mal agradecidos) e a maior parte de nós temos que nos esforçar para isso.

A primeira bravura, diz ele, está em aceitar o que sou: meu lugar, meu destino, mesmo que às vezes me pareça um duro dever. Logo, a coragem – que os clássicos denominavam fortaleza – consiste em aguentar diante da batalha o que me ameaça: as feridas interiores, o passar do tempo, o sofrimento e a morte. E fazer sem exagerar, sabendo que tudo isso nos serve pra crescer.

O crente sabe que as coisas estão na mão de Deus, e por isso nada há de temer. Além disso, diante das relações pessoais e de trabalho a cada dia sabe que tem uma missão. E essa missão tem a ver coma verdade e honestidade, pureza e nobreza; e seu oposto: a mentira e o próprio proveito, a sujeira e a baixeza.

Observa Guardini que Deus teve a estima de fazer o homem livre. E Cristo, a coragem de ir pra Cruz. Por isso Ele será sempre a maior força dos jovens, a quem se dirigia São João: “Eu escrevo, a vós, jovens porque venceram o maligno” (1 Jo 2, 13). E o Papa Francisco “Não se envergonhem de sua cruz. Mas sim, abracem-na porque têm compreendido que a verdadeira alegria está no dom de si mesmo, no dom de si, em sair de si mesmo” (Homília 24-III-2013) E assim, jovens, e todos que têm um coração jovem – podem, com a força da cruz contribuir para quebrar “o muro da inimizade, que separa os homens e aos povos, e trouxe a reconciliação e a paz”. (Ibid.).


Concentração e silêncio

Hoje o exterior nos domina e nos chega, muitas vezes, de modo violento: a tempestade de informações e o barulho que nos rodeia leva nosso tempo e serenidade para processar os dados que nos chegam e adquirir nossas próprias opiniões e convicções.

Porém na realidade nossa resposta dada fora (nas relações com os demais e com o trabalho) depende muito da nossa capacidade para nos concentrarmos. Só assim aprenderemos não usar pessoas para nossos exclusivos interesses ou as coisas como simples produto de consumo.

E o mesmo sucede em relação á Deus. Sem dedicar tempo suficiente à oração (mesmo que sejam poucos minutos por dia), no dialogo confiante com Ele, não podemos ouvi-lo, e, portanto captar o que nos pede. Sem examinar com frequência nossa conduta não é fácil sairmos de nós mesmos para os demais.

Isso, obviamente, não é só para monges ou eremitas. Quem se move no calor da rua precisa aprender a desconectar, para que não chegue um momento que estar consigo mesmo seja difícil ou insuportável, sobre tudo porque não se aceite com seus próprios defeitos.

Há necessidade de aprender a calar, não só porque se ganha muito não dizendo bobeiras, mas para poder refletir, conhecer de verdade e poder dar-se, pois só se da a si mesmo o que se tem. Se as palavras permitem a sí intervir na história, o silêncio lhe da à liberdade para se enriquecer de outra maneira possivelmente com a contemplação e respeito, com a generosidade ou a ternura (de novo se pode recordar aqui o Papa Francisco).

Sem o silêncio não tem cabimento a relação de amizade com Deus. E isso não quer dizer que existem pessoas que a tem mais fácil porque são mais “caladas” porque o verdadeiro silêncio pouco tem a ver com introspecção ou melancolia.

Também, Deus, conclui Guardin; cala muitas vezes, fala simplesmente com os acontecimentos ou com a suave brisa (cf. 1 Re 19, 11-12). E no contexto desse silêncio tem uma Palavra eterna que, segundo a revelação judaico-cristã, se manifestou ao mundo em Jesus de Nazaré, acompanhada pelo Espirito de amor; para nos assegurar que o dar e receber o temos como imagem da vida divina.







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